Ipea apresenta diagnóstico da infraestrutura de pesquisa do País

Laboratórios de pequeno porte, sem equipamentos de ponta ou equipes multidisciplinares. Esse é o retrato da infraestrutura de pesquisa científica do País, que dificulta a competitividade global da ciência brasileira. A conclusão é do estudo Sistemas Setoriais de Inovação e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Ipea, Fernanda De Negri, apresentou os resultados, nesta quinta-feira (28), a servidores do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A pesquisa avaliou 1.760 laboratórios de 143 instituições, onde trabalhavam, na época, 7.090 pesquisadores.

“Essa média de quatro pessoas por unidade significa uma infraestrutura pequena, pulverizada e fragmentada”, comentou Fernanda. “Esse, talvez, seja o pior problema da ciência brasileira. Temos poucos laboratórios grandes. A maioria tem valor estimado de até R$ 500 mil, ou seja, de modo geral, são pequenas salas dentro de departamentos das universidades, onde atuam duas pessoas, o professor e um aluno.”

Na opinião da diretora do Ipea, o formato do sistema compromete a qualidade da ciência. “Para fazer pesquisa de ponta, você precisa de multidisciplinaridade, grandes instalações e bastante gente trabalhando em temas similares”, defendeu. “Esses laboratórios pequenos são muito mais para ensino ou para aquela pesquisa de mestrado, doutorado, não é para fazer algo de ponta.”

O estudo indica menos de 20 laboratórios com valor estimado do conjunto de seus equipamentos superior a R$ 15 milhões. “Isso em uma amostra de 1.760. Esse dado expõe a dificuldade do pesquisador brasileiro para competir com quem trabalha em grandes centros do exterior”, apontou Fernanda.

A diretora do Ipea destacou como exceções o Laboratório de Integração e Testes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (LIT/Inpe) e unidades do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Essas instituições são pontos fora da curva, que se diferenciam da massa da infraestrutura no Brasil. São centros maiores, com equipes multidisciplinares e equipamentos de uso multiusuário.”

Nesta terça-feira, a diretora do Ipea esteve no Senado Federal onde apontou falhas na gestão e aplicação dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Levantamento

O estudo partiu de trabalhos da Assessoria de Acompanhamento e Avaliação do MCTI (Ascav) e de questionários aplicados em 2013. Segundo Fernanda, até então, não havia no país nenhum levantamento sistematizado sobre a localização, a quantidade e a situação da infraestrutura de pesquisa.

“Idealizado o estudo, primeiro, para subsidiar política pública. A segunda motivação foi avaliar os efeitos das políticas já existentes sobre o cenário”, recordou. “E um terceiro objetivo era facilitar que pesquisadores e empresas soubessem onde encontrar determinados laboratórios, equipamentos e instalações. Esse é um gargalo ainda a ser resolvido.”

Para a diretora, o próximo passo será comparar a infraestrutura nacional a de outros países, a fim de tirar lições das experiências. “Visitamos laboratórios dos Estados Unidos e planejamos ampliar o trabalho a países europeus.”

Fonte: Agência Gestão CT&I, com informações do MCTI

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